15.6.16

um dia de crime ou a volta de jesus romântico

comeria aos goles toda faca de dois gumes
e ainda por cima, impune
pisaria com pés de sopa quente na rosa branca do túmulo do cemitério murado
só pra dizer
em tons de eu te amo
que ficaria sem tudo o que a contrasenso parece permanecer

pegaria no mercado um saco de azeitonas
e jogaria na rodovia mais próxima

saca só o brilho

saca só

diante da ponte trincada amarelo melão
berraria os susurros todos que ouvi de minha mãe
e eles iam ressoar como terra ao som de línguas secas

saca só o brilho

saca só

tocaria berimbau em cima da mesa da diretoria
e ainda por cima, diria
que em toda masca de chiclete mora um peido de moleque
e que as cascas de pé descalço dão bem um bom chá
de espanto

teria corrido atrás do rabo de uma viatura
e andaríamos em círculo formando bolas de azia pelo ar

só pra dizer
em tons de eu te amo

saca só o brilho

cortaria todo mal pelo sistema nervoso central
ousaria ainda parar pra ver a parada da venda que vende respirações
a todo custo
e num confronto medieval
curaria numa só seiva a geléia toda prometida pelo papa

saco só

teríamos num bosch ou num bruegel toda vontade de viver
condensada em meia xícara de chá de café em pó
e nem nos daríamos conta de que viraríamos isso mesmo
só pra dizer
em tons de eu te amo

saca

e de uma hora para antes
como dois atenuantes
viveríamos um breve momento eterno na surra cansada de uma lataria

seria lindo

saca só o brilho

convencido de toda miséria na mosca do leão putreficado
surgiria macabro
na legião de passos falhos e vazados
só pra dizer
em tons de eu te amo

que eu te amo

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